segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Mãe de coração atômico por Mauricio Schwartsman



Foto: Storm Thorgerson

Lulubelle III (cuja fotografia encontra-se ao lado do artigo) tornou-se, em 1970 ou 1973, a vaca mais famosa do rock, servindo de capa para o disco Atom Heart Mother para o pouco conhecido grupo Pink Floyd. Sua fama, entretanto, não foi suficiente para divulgar o curta-metragem de Otto Secondo, cuja história se baseia na primeira música do disco, chamada Atom Heart Mother Suite, um épico de aproximadamente 23 minutos, que também serve de trilha sonora para o filme.
A história supostamente narrada na música gera uma certa controvérsia, embora ninguém realmente tenha se preocupado em tentar entender a história. Em vez disso, preferiram ouvir e curtir. Otto, no entanto, buscou um significado com ajuda de uma razoável dose de ácido lisérgico, enquanto ouviu a música por 12 horas seguidas, e sofreu o que chamam de “bad trip”. Quem passou por uma experiência assim terá o prazer de repeti-la no filme, e quem sequer usou drogas provavelmente não vai usar após experimentar essa pequena amostra.
O roteiro consiste mais ou menos em um momento da vida de um jovem fazendeiro, cujo pai morre em um acidente quando era ainda criança. Então a personagem é construída, sem falas, aprendendo a ordenhar vacas e sofrendo nas mãos da mãe, com constantes alusões ao pai perdido e à vaca. A loucura e o ódio vão aos poucos tomando o jovem, e culmina quando encontra pequenos cogumelos no esterco no estábulo e deliberadamente os come. No exato minuto em que se submete aos efeitos alucinógenos a trilha sonora sincroniza com a penúltima parte da música. Quem já for familiar vai entender do que se trata, mas aos que não a conhecem basta saber que é uma alucinação. Uma alucinação deveras desagradável. Quando a viagem lisérgica termina, chegamos a um fim surpreendente e desesperador, quase kafkiano.
Otto jura ter incorporado a mente de Roger Waters enquanto buscava inspiração. “Não foi bom”, alega, “ele se vê muito como o sofredor, de modo que interpretá-lo faz você se sentir um pobre coitado. Não recomendo a experiência a ninguém”. Ele recomenda, todavia, que assistam ao seu filme. Quem quiser se sentir na pele de Roger Waters certamente conseguirá o que deseja.

2 comentários:

Maurício disse...

esse filme não existe, mas tudo bem.

Unknown disse...

Maurício, tu terás futuro como jornalista ou escritor frustado.
:)